terça-feira, 31 de julho de 2007

As canalhices dos semicanalhas

Recebia hoje, no limiar de um novo mês que se avizinha, uma carta do dileto amigo Vladimir Lênin Morais, na qual se mostra maravilhado com o quarto volume dos Cadernos do Cárcere, lançado na praça tupiniquim em 2001, no qual estão reunidos quatro (16, 20, 22 e 26) dos 33 cadernos escritos pelo ideólogo comunista Antônio Gramsci durante seu período de cárcere. O que mais chama a atenção do meu amigo nesta obra é o tratamento dispensado por Gramsci aos 'canalhas', que para ele não existem, pois em verdade são semicanalhas.
"Os semicanalhas são os canalhas reais que nos enganam no dia-a-dia, nos exploram, nos oprimem, nos dão golpes, nos envenenam com suas intrigas e calunias. Não é raro que eles sejam sujeitos inteligentes, agradáveis e nos façam gentilezas, exibindo uma cativante simpatia que contribui para atenuar o nosso senso crítico em relação ao esvaziamento dos valores morais. Por serem desprezíveis, os semicanalhas encontram, paradoxalmente, facilidades para se multiplicarem, aproveitando a insuficiência da opinião pública que não se empenha em combater-lhes as falcatruas. Tornam-se, assim, uma da causas do agravamento da ética. São oportunistas. São avarentos capazes de atos generosos, sobretudo quando tais atos resultam em boa publicidade. São mais nocivos que o canalha total. São mais numerosos e, portanto, se disfarçam melhor. Quando se vêem alcançados pelos braços da Justiça, escapam mais facilmente às malhas da lei penal, porque suas 'qualidades' inspiram a indulgência e amolecem a disposição punitiva dos juízes. São mentirosos, mas vez por outra dizem verdades. Talvez até para terem maior credibilidade, por ocasião da próxima mentira".
Postado por Carla Monteiro

Nenhum comentário: