Recebia hoje, no limiar de um novo mês que se avizinha, uma carta do dileto amigo Vladimir Lênin Morais, na qual se mostra maravilhado com o quarto volume dos Cadernos do Cárcere, lançado na praça tupiniquim em 2001, no qual estão reunidos quatro (16, 20, 22 e 26) dos 33 cadernos escritos pelo ideólogo comunista Antônio Gramsci durante seu período de cárcere. O que mais chama a atenção do meu amigo nesta obra é o tratamento dispensado por Gramsci aos 'canalhas', que para ele não existem, pois em verdade são semicanalhas.
"Os semicanalhas são os canalhas reais que nos enganam no dia-a-dia, nos exploram, nos oprimem, nos dão golpes, nos envenenam com suas intrigas e calunias. Não é raro que eles sejam sujeitos inteligentes, agradáveis e nos façam gentilezas, exibindo uma cativante simpatia que contribui para atenuar o nosso senso crítico em relação ao esvaziamento dos valores morais. Por serem desprezíveis, os semicanalhas encontram, paradoxalmente, facilidades para se multiplicarem, aproveitando a insuficiência da opinião pública que não se empenha em combater-lhes as falcatruas. Tornam-se, assim, uma da causas do agravamento da ética. São oportunistas. São avarentos capazes de atos generosos, sobretudo quando tais atos resultam em boa publicidade. São mais nocivos que o canalha total. São mais numerosos e, portanto, se disfarçam melhor. Quando se vêem alcançados pelos braços da Justiça, escapam mais facilmente às malhas da lei penal, porque suas 'qualidades' inspiram a indulgência e amolecem a disposição punitiva dos juízes. São mentirosos, mas vez por outra dizem verdades. Talvez até para terem maior credibilidade, por ocasião da próxima mentira".
Postado por Carla Monteiro
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